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Livro reúne depoimentos de 46 filhos de perseguidos políticos da ditadura

  • 24 de mar.
  • 4 min de leitura

Obra com relatos de filhos de mortos, torturados, desaparecidos e exilados é lançada na semana em que se comemora os 40 anos do final da ditadura militar no Brasil


Jornal Extra Classe | Publicado em 17 de março de 2025


Será lançado nesta terça-feira, 18 de março, um livro com depoimentos de 46 filhos e filhas de militantes e intelectuais de esquerda que foram perseguidos, presos, torturados, assassinados e/ou exilados durante a Ditadura Militar no Brasil, que perdurou de 1° de abril de 1964 até 15 de março de 1985.  A coletânea, Crianças e exílio – Memórias de infâncias marcadas pela ditadura militar (Carta Editora, 2025, 344 p.) terá sessão de autógrafos com presença de quatro autores às 19h, no auditório da Faculdade de Educação, Campus Central da Ufrgs, em Porto Alegre. No último dia 15 de março foram comemorados os 40 anos dos final da Ditadura.

Estarão presentes no lançamento Helena Dória Lucas de Oliveira – autora e uma das org.; Antônio Dória Lucas de Oliveira; Alexandre Guimarães Antunes e Rogério Tosca.

Entre os depoimentos, a de Claudia Lamarca, filha do capitão Carlos Lamarca, que desertou em 1969 e participou da guerrilha contra o regime, morto em uma emboscada; e de Daniel Souza, filho de Herbert José de Souza, o Betinho, exilado no Chile.

São histórias inéditas, sensíveis, humanas e trágicas, de quem era ainda criança durante a ditadura militar no Brasil. As narrativas revelam como essas crianças levaram suas vidas longe do país de origem e como os militares brasileiros as trataram naquele período.

Algumas delas foram trocadas por diplomatas que haviam sido capturados pela resistência armada na luta pela democracia. Outras nasceram fora do país e sequer tiveram a oportunidade de serem registradas nas embaixadas brasileiras como cidadãos nacionais; além daquelas que foram levadas para fora para não serem assassinadas ou simplesmente desaparecidas, como seus pais.

 “Crianças e exílio é um livro impactante, que provocará um forte solavanco na história brasileira desse período sombrio e violento. São 46 textos de autores e autoras que hoje vivem no Brasil e também na França, Alemanha, Itália, Portugal e Estados Unidos, afinal, o Brasil ainda é um país estrangeiro para muitos deles. Hoje, deixam para trás um retiro maldito e inscrevem seus nomes na história do Brasil”, afirma o jornalista e escritor Eduardo Reina, que assina a introdução do livro. Para ele, o livro mantém viva a memória sobre um dos períodos mais cruéis e sangrentos da vida política do Brasil. Sob outro olhar traz à tona lembranças do arbítrio, perseguição, tortura, morte e suas consequências sobre os brasileiros e a sociedade.

A apresentação da obra é do jornalista Caco Barcellos. “Crianças e Exílio, em síntese, é um livro sobre odisseias individuais de pessoas que foram condenadas a viver sem pátria e que, unidas nesta obra, decidiram romper o silêncio sobre os segredos de sobrevivência nos ambientes de gente conservadora e de profunda de rejeição ideológica”, escreveu Caco.

“O silenciamento que se impôs pela violência ditatorial reverberou nas famílias perseguidas que, para sua proteção e dos próximos, tiveram que exigir das crianças o sigilo de seus nomes e de seus pais, e esta marca do silêncio forçado atravessou grande período de suas vidas”, destaca Vera Vital Brasil, psicóloga, integrante do Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação, que assina o prefácio da publicação.

Rompendo o silêncio


Foto: Reprodução/Carta Editora

As organizadoras da obra são as professoras Helena Dória Lucas de Oliveira e Nadejda Marques, que também estão entre as autoras. Elas relatam que muitas crianças que foram presas e torturadas não conseguiram escrever suas histórias, mas integram o grupo de crianças banidas pela ditadura, composto por 66 pessoas.


“Este livro é um resgate histórico. O exílio sempre foi romantizado, mas para nós foi uma violência sem igual. Mais uma atrocidade cometida pelos militares brasileiros durante a ditadura”, explica Nadejda.

Poucos conhecem a verdadeira história dessas crianças que sofreram perseguição, tortura psicológica e física e de todos os esforços desempenhados para se manterem vivas. “São histórias das crianças que nunca foram contadas. Tem gente que ainda tem medo de falar e não quer ter o nome publicizado”, adianta Helena. Para ela, com o registro de suas histórias, essas pessoas são retiradas do silêncio e apagamento da censura e do medo. O exílio forçado dos pequenos se transformou num longo tempo congelado de vida, de isolamento da família, de parentes, do país e da vida cotidiana, principalmente para as crianças, como é possível sentir nos depoimentos descritos nesta obra.

Veja a relação completa dos autores:

Daniel Souza, Claudia Lamarca, Tatiana Piola, Nadejda Marques (coord.), Cybelle Mendes, Flavia Quintiliano Verri, Silvia Sette Whitaker Ferreira, Marta Nehring, Camila S. T. Bianchi, Ângela Telma Lucena Imperatrice, Adilson Oliveira Lucena, Denise Oliveira Lucena, Jana Eleonora Branco d’Avila, Dora A. Rodrigues Mukudai, Nadia Bambirra dos Santos, Guilherme Gitahy de Figueiredo, Andréa Curtiss Alvarenga, Marina Curtiss Alvarenga, Danilo Curtiss Alvarenga, Marcia Curi Vaz Galvão, Luis Carlos Max do Nascimento, Zuleide Aparecida do Nascimento, Isabella Thiago de Mello, Anacleto Julião de Paula Crêspo, Alexina Lúcia Calle de Paula, Álvaro Silveira Faleiros, Licia Maciel Hauer, Mirian T. Leonardo, Isabel Maria Gomes da Silva, Gregorio Gomes da Silva, Elisa Diniz Reis Vieira, Antônio Carlos Borges Cunha, Rogério Tosca, Natalia Trajber, Tamara Keller Soliz, Andiara Cobério Terena, Luciana Capiberibe, Camilo Capiberibe, Artionka Capiberibe, Ana Amélia de M. C. de Melo, Mario de Toledo Sader, André de Toledo Sader, Alexandre Guimarães Antunes, Antônio Dória Lucas de Oliveira, Helena Dória Lucas de Oliveira (coord.), Ñasaindy Barrett de Araújo.

Serviço:

Lançamento nacional do livro Crianças e exílio – Memórias de infâncias marcadas pela ditadura militar, Carta Editora, 2025, 344 páginas, R$ 85,00.

Terça-feira, 18 de março, às 19h, no auditório da Faculdade de Educação da Ufrgs – Campus Central – Av. Paulo Gama, s/n, prédio 12.201, sala 102 – Porto Alegre (RS).

 
 
 

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